Encaro o piano ao fundo do quarto. Quanto tempo faz que não toco? Quanto tempo faz que não sinto as teclas sob meus dedos, pressionadas levemente enquanto estou envolvida na melodia delas? Não sei. A verdade é que eu mudei. No começo achei que era errado mudar, que estaria negando meu "verdadeiro eu" ou que tinha esquecido o que realmente era minha personalidade. Mas não. Descobri que todos mudam. É algo natural. O tempo, as experiências, os lugares, os sentimentos. Tudo nos transforma constantemente. Olho fotos antigas de pessoas que amo. Ou amei. Sei lá. Alguns mudaram tanto e realmente, se tornaram irreconhecíveis. Outros apenas se adequaram a idade que adquiriram em seu aniversário. Uma frase que me motiva é "Eu nunca quero mudar tanto ao ponto das pessoas não me reconhecerem". Pois ao mesmo tempo que sei que todos somos humanos e nossos sentimentos e vontades parecem uma montanha russa, sei que lá no fundo de nossa mente ou coração temos algo só nosso, e que quando perdermos isso saberemos que realmente não somos mais quem antes éramos. Eu tinha a música. Mas a verdade é que ainda a possuo. Não escrevo com tanta frequência, é verdade. Mas não posso forçar meus sentimentos. Todas as letras e melodias, frases e arranjos. Tudo vinha naturalmente. Muitas vezes acordei no meio da noite porque aquele bendito verso não deixava minha mente quieta. Mas agora eles não chegam sempre. Tenho medo, admito. Mas sei que a música ainda está aqui e só preciso senti-la profundamente. 

  Continuo a encarar o piano. Empoeirado, mesmo que esteja coberto pelo plástico. Tive sonhos tão grandes que esqueci o que realmente era o centro da minha vida. Existia apenas para cumprir estes sonhos. Mas a verdade é que, hoje eu sei, que se tivesse vivido alguns deles, talvez não estivesse aqui hoje. Não os deixei, ainda sonho. Mas não dou tanta importância como se meu oxigênio dependesse disso. No fim das contas, tudo que passamos nos ensina algo. E Deus sabe todas as coisas. Tento deixar a culpa que me empurra para o chão de lado. Mas é difícil, Ela sempre me lembra do que não vivi, não conquistei. Achava que estava perdida mas aprendi que quando estou fraca, Deus me faz forte. Ele me ensinou que não preciso ser perfeita. Pois já sou única. Que quando estiver difícil, Ele segurará minha mão. E as vezes, precisamos nos lembrar que somos dependentes de seu amor. E da graça. 

  Não está sendo fácil mas estou tentando. E a cada dia que passa vejo que tomei a decisão certa. As vezes é preciso abrir mão de algumas coisas e sonhos. Talvez outros não entendam minhas razões mas, eu sei em quem acredito. E sei que vale a pena. Hoje tenho outros sonhos, mas não deixo que apenas eles me guiem. Hoje coloco eles nas mãos de Deus, onde sei que eles terão forma e acontecerão no tempo certo, se isso realmente for bom pra mim. Não sei como será daqui pra frente, mas sei que guardo tudo o que sou em lugar seguro.