Encontrei-me olhando para o céu enquanto observava algumas nuvens. O dia estava tão claro que machucava um pouco meus olhos. Mas ali eu comecei a perceber o quanto já tenho. Numa geração tão sem tempo, é difícil olhar para os detalhes. Mas a verdade é que neles encontrei um pouco dessa tal felicidade. Comecei a perceber que cada segundo conta e que não podemos tomar tudo como garantido, tudo pode desaparecer tão rápido, em um piscar de olhos. Percebi que preciso viver o agora, mas não como uma grande festa, que desperdiço o que tenho, mas preciso aproveitar cada minuto fazendo com que cada detalhe e sentimento valha a pena no final.
Olhava para meus problemas e reclamava tanto. Depois de quebrar a cara percebi o quanto eu já tinha recebido da vida. Tantos abraços – pessoas que não mereço mas, por um milagre continuam comigo, tantas idas e vindas num ônibus lotado – ao invés de reclamar novamente, comecei a ser grata por poder ouvir minha música preferida no volume máximo. São coisas pequenas mas, elas me fazem feliz. Sinto-me tão abençoada por ter tido tanto tempo.
Hoje eu tento ser grata e tento imaginar como outra pessoa se sentiria. Olhando os aviões que se escondem por entre as nuvens tento pensar que existem pessoas ali. Pessoas que respiram, trabalham, vivem, que estão ali para uma reunião cansativa ou talvez para realizar o sonho de uma viagem para um lugar desconhecido. Faço um leve esforço para conseguir ver um pouco da Lua lá no céu e sorrio. Observo a imensidão da natureza, das árvores e trilhas, dos pássaros ao fundo, enquanto tiro algumas fotos, agradeço pela linda vista. Talvez não seja tão difícil assim enfrentar mais um dia.
Enquanto enfrento a multidão no centro da cidade, tento notar os olhares e sinais que cada um dá enquanto passa. Seja o estudante que ri no seu grupo de amigos, o casal mais velho de mãos dadas, a moça com seu cabelo ruivo e piercing, todos são alguém nesse mundo. Todos fazem parte dessa sociedade maluca que com tantas cores, formas e escolhas diferentes busca encontrar o mesmo objetivo em meio ao caos da vida: a felicidade. Que tais pessoas possam como eu, aprender com a vida e seus erros que, às vezes já temos o que tanto buscamos bem na nossa frente. Que possamos deixar um pouco essa superficialidade do cotidiano e encontrar significado no que já temos sempre. Seja nos detalhes, nos sorrisos de desconhecidos, num passarinho lá longe, em um toque de alguém que amo aqui perto, na alegria de conseguir correr e pegar o ônibus... Na raiva de chegar em casa ensopado depois de uma tempestade – que tal ser grato por ter chegado em casa?
