Talvez seja difícil de acreditar mas olha até onde chegamos. Foram muitas conquistas, muitas lutas, muitos sorrisos e muita, muita dor. Mesmo assim valeu a pena, não é? Todas as noites que passou em claro, chorando e clamando a Deus por socorro. Lutando contra tantas dúvidas que percorriam seu ser, você creu. E Ele te ouviu. Nossa. Ele te ouviu mesmo. Dá pra imaginar isso? Dentre tantas pessoas, mais ou menos 7 bilhões, ele se importou com você. Com essa menina que se julga fraca e sem valor. Ele te dá valor. Ele está lá em cima, e pode estar no seu coração também. A verdade é essa. Dizem que temos que deixar a luz entrar. Dói muito, é verdade. Mas como vale a pena.

   Doeu demais pra mim. Eu cheguei ao meu limite tantas vezes que é impossível contar. Tentei acabar com tudo e fugir. Mas no fundo eu sabia que iria ser pior. Me acostumei com a dor de uma forma que comecei a necessitá-la. Busquei-a com todas as forças, pensei que era tudo o que eu merecia. "Você não é nada, por que acha que merece algo bom? Não há nada que presta em você, você é um erro, um arrependimento." Era o que minha mente me dizia. As lágrimas caiam parecendo ter vida própria. Minha mente se dividia em várias e era difícil competir com rosto no espelho. Mesmo numa multidão eu me sentia sozinha. Não estava triste. Tristeza é momentânea. Eu não conseguia viver. Respirar. De verdade. Daquele jeito que você fica feliz ao final do dia. Eu estava destruída. Pela vida. Pelas circunstancias e em parte – uma parte bem grande – por minha culpa. Tomei decisões erradas de que me arrependo até hoje.

   Fui horrível e tratei mal aqueles que me amavam. Eles tentaram me ajudar e eu os empurrei para longe. A verdade era que eu precisava sentir o que realmente era estar sozinha. Só assim pude procurar na imensidão do universo quem eu era. Perguntei para todos e não encontrava resposta. Olhei para dentro de mim e de repente, consegui abrir os olhos. Liguei os pontos e vi, quantos momentos eu estava fingindo não enxergar. Quantas chances de melhora. Quantas chances de cura. Quantas chances de encontrar a felicidade. Mas eu não queria ser curada. "Não toque em mim, não preciso de ajuda. Você não me entende. Nem eu entendo. Não finja que se importa. Você não liga como todos os outros. A dor é só minha. Ela é a única que não me abandona mesmo que eu me mutile, mesmo com a faca mais afiada, mesmo que todo o sangue seja derramado ao chão. Ela está aqui. Mesmo quando as cicatrizes se apagarem ela está aqui. E quer saber? Eu a mereço. Mereço por tudo o que fiz. Fui idiota e não mereço nada além da dor. A dor tomou meu ser por completo e se tento fugir ela me puxa de volta. É tudo o que sei. Não preciso de ajuda. Ninguém pode me ajudar." Eu repetia isso incessantemente. A escuridão ria de meu sofrimento. Minhas batalhas estavam perdidas. As cicatrizes da guerra foram tudo o que restou.

   No cotidiano que eu tentava evitar, encontrei uma luz. Aquela luz bem pequena, que você vê por um relance, sabe? Eu a encontrei. Olhei bem de perto e corri assustada. Tempos se passaram e aquela luz me perseguia. Parecia que não queria ir embora, como a Lua, mesmo quando tento me esconder, lá está ela. Era igual aquela luz. Eu a via cada vez que olhava um rosto amigo. Alguém dizendo com sinceridade que existia uma saída e eu não precisava lutar. A luz estava em cada "Você está bem, bem mesmo?" que saia da boca de minha mãe, enquanto eu respondia mentindo dizendo que não é nada, que estou bem – enquanto escondia as lágrimas e cicatrizes com a máscara que criei. Eu enxerguei a luz mesmo quando não queria, através de um velho sermão, enquanto eu estava ali ao fundo da igreja torcendo para que a reunião acabasse logo. Até que um dia a luz brilhou tão forte que não consegui me conter. A luz me encontrou e falou comigo. Eu sabia quem era a luz, sim eu sabia. Sabe quem era? Era Ele. Sim, aquele de quem eu fugi, com vergonha de meus erros e cicatrizes. Me trancaria em um quarto escuro tentando me esconder mesmo sabendo que Ele também estava lá. E lá, naquela reunião da igreja também. Eu tinha certeza do que acreditava mas, me sentia tão distante, tão suja. "Quem você pensa que é para vir até aqui? Ele nunca te notaria, você é apenas uma pecadora egoísta, tanta gente sofrendo no mundo. E você tem tudo e pensa que sente dor." Era o que minha mente dizia e eu conseguia ouvir como se outras milhões de mentes no mundo pensassem da mesma forma. Mas naquele dia, a luz brilhou. Naquela igreja, ele olhou pra mim, diante de todos e me respondeu. Disse tudo aquilo que eu estava sentindo, e que, eu tenho certeza, só ele poderia saber. Ele disse e me deu esperança. Senti um pouquinho do que era a vida, correndo por minhas veias. 

  Quando voltei pra casa decidi fazer algo que sempre me senti constrangida demais para fazer. Falar. Contar tudo. Contar pra Ele. Lá dentro do meu quarto escuro. Contei tudo. Como se ele não soubesse. Mas sei que Ele iria querer ouvir de mim. E Ele ouviu. Ouviu tudo e me deu atenção. Atenção de verdade, sabe? Quando você consegue sentir que a pessoa se importa e quer que você conte mais. Eu senti. Senti muito mais que isso. Senti como um abraço forte. Um abraço que arrancava de mim tudo aquilo que me feria. E me senti amada. Coisa que já havia até esquecido como é. O amor d'Ele veio tão forte, tão vivo dentro de mim, não tive como escapar. Deixei que a brisa leve viesse e levasse embora a vergonha. Não foi tarefa fácil. Foram meses e meses de luta constante. De recaídas. Com as vozes dizendo que eu era egoísta demais e não era nada para Ele. Que existiam pessoas mais importantes para se preocupar. Mas eu aprendi, em outro sermão, que Deus não precisa tirar de alguém para dar a você. Deixa eu explicar, Ele é Deus. Ele te formou com as mãos e sabe o que você está passando. Ele veio nesse mundo decaído e sentiu toda a dor também. Ele sabe como é. Eu só descobri isso agora. Ele segurou minha mão e me arrancou da areia movediça que queria me engolir. Mas não foi só Ele. Eu também tive de QUERER sair. Não soltar a mão d'Ele por nada. Lutar contra a gravidade que me puxava para baixo. Lutar contra o medo de falhar novamente. Dia após dia. Eu fui teimosa e pensava que não conseguiria. Que era fraca. E é verdade. Sou fraca. Mas eu descobri algo muito bom sobre Ele. O poder d'Ele se aperfeiçoa na minha fraqueza. Quando estou fraco aí sim é que me torno forte. Porque ele está aqui. Ele está comigo. Dentro de mim. De verdade. A força que uso para conseguir acordar a cada dia não é minha mas vem d'Ele.

  Eu pensei que tudo estava perdido mas Ele olhou dentro da minha alma e conseguiu ver algo bom. Ele vê o que eu posso ser, não o que fui. Todo esse amor, toda essa graça me mantém viva. Respirando. Mas não só sobrevivendo. Estou viva de verdade hoje. Porque Ele olhou para mim. Ele não é mal-educado, não entra sem permissão. Mas deixei que Ele entrasse – entrasse aqui dentro de mim e arrumasse toda a bagunça. E Ele veio. Eu sinto a diferença. Agora tudo está limpo e arrumado. Claro, não sou perfeita. Erro muito. Mesmo assim Ele não me deixa. Ele me faz levantar todas as vezes depois de uma queda porque Ele está aqui. Porque a graça d'Ele é maior do que eu posso imaginar. Eu não mereço tanto amor e é por isso mesmo que Ele me dá. Não sei como será daqui para frente mais sei que só vou com Ele. E se eu cair, ele segurará minha mão e me levantará novamente.     Sabe, eu só queria dizer que existe sim uma luz no fim do túnel. E não, não é aquele trem que eu já tanto desejei que passasse em alta velocidade, esmagando meu ser e arrancando-me a vida. Não, a luz era linda. Não veio para me destruir mas sim para me consertar. Juntar os cacos, colar tudo, ou talvez me refazer por completo. E mesmo se, eu olhar para o vento e sentir medo, sei que ele olhará para mim dizendo que tudo ficará bem. "Porque eu, o Senhor teu Deus, te seguro pela tua mão direita, e te digo: Não temas; eu te ajudarei." Isaias 41:13